terça-feira, 2 de abril de 2013

"Iluminou"




38 semanas de gestação

6h07

- Babe, babe... Acho que a minha bolsa estourou.
- Anh, que?
- Minha bolsa. Estou perdendo muito líquido. Fazendo xixi sem controle...
- Claro que não, babe. Bolsa estourada faz “chuááá”. Vem dormir.
- Não, babe, é sério.

Confirmado o rompimento. Liga pra médica, liga para doula, vamos pro hospital... E eu ali pensando: “E agora? Por enquanto, não sinto nada. Quando e como começa? Tanto dia para nascer e a Bethânia escolhe quando estou gripada. Será que vou conseguir?”

Me mandaram tomar banho, comer, dormir e descansar, porque o dia ia ser longo. Mas como dorme? Minha cabeça era um turbilhão. Relaxei um pouco com uma massagem da minha irmã, mas o foco estava nas sensações do corpo. Uma cólica suave (semelhante à menstrual) ia e vinha e uma vontade intensa de ir ao banheiro.

Marido agoniado. Tá bom, vamos para o hospital. No caminho, o som me presenteou com a linda voz de Clara Nunes: “Raiou, resplandeceu, iluminou. Na barra do dia o canto do galo ecoou. A flor se abriu...” Chorei. Estava aí a trilha sonora do nascimento da minha pequena.

Ao chegar, a dra. J. examinou: 1cm de dilatação. “Vai pra casa. Relaxa. Quando as contrações estiverem de 5 em 5 minutos vocês voltam.” Casa??? Nem pensar, a minha casa é muito longe. Fui pra sogra. No caminho, aquela colicazinha foi se transformando em colicazona. Em meia hora, eu já não conseguia relaxar mais. “Marca aí no celular, babe”. “Foi forte, fraca ou média?” “Sei lá, acho que foi fraca, pensando que ainda vai piorar, mas foi forte...” “Outra, marca de novo.” “Foi forte?” “Não sei, só marca!” Em menos de uma hora, as contrações ficaram de 5 em 5 minutos. Liga pra doula. Liga pra médica. Volta para o hospital.

Na maternidade, me encaminharam para o pré-parto, porque não havia quarto disponível, e a médica, que estava no centro cirúrgico, tinha de solicitar a internação. “Será que só eu percebo que o bebê tá nascendo? Pelo amor de Deus, me leva para um quarto!!!” Marido rodopiando tentando ajudar. Minha doula, a R., chegou. Honestamente, não sei como alguém consegue parir sem esse suporte. Foi essencial. As contrações iam e vinham de 3 em 3 e bem intensas. Às 13h30, fui tocada e 3cm: “Meu Deus! Ainda faltam 7cm??? Isso vai durar o dia todo. Será que vou aguentar?” 

Entrei no chuveiro. Na água quente, aproveitei cada segundo de não contração para descansar. Chegava quase a dormir, quando vinha outra me apertando. De repente, já não era mais possível me sentar ou me mexer direito. Me arrastei até a maca e, depois de um novo toque, a notícia da médica: “Abriu tudo. A cabeça taí. Vamos lá. Enfermeiras, vou fazer o parto aqui mesmo”. O hospital ainda não tinha me arrumado um quarto. Minha filha ia nascer ali, sem estrutura, sem material esterilizado, sem condições. Enfim, vamos lá.

De repente, o meu corpo começou a me pedir para fazer força. Uma ação totalmente irracional, puro instinto. A cada contração, aquele movimento surgia. A força mais incrível que já senti. Nem acreditei que existia algo tão intenso e lindo dentro de mim. E, de repente, na hora do “tá coroando”, entra o pediatra do hospital (vamos chamá-lo aqui de Dr. Aloprado) chutando a porta e gritando com a médica: “P..., dra. J. Como você está fazendo o parto aqui, sem estrutura. Esse bebê não pode nascer nesse ambiente contaminado, não tem nem oxigênio”. E saiu para buscar o oxigênio. Todos atônitos na sala. Eu, de cócoras, em cima da maca, apoiada no marido e na doula, e sem entender ao certo se aquilo tinha acontecido mesmo.

Outra contração, mais força, está saindo. “Nossa, que calor, que sensação incrível!”. Dr. Aloprado entra novamente na sala: “Não acredito, dra., que você está fazendo esse parto aqui. É um absurdo! Blá, blá, blá...” “O SENHOR PODE FAZER O FAVOR DE CALAR A BOCA!?!?” Boa, marido! Mandou o Dr. Aloprado se calar, e pudemos aproveitar os últimos segundos da nossa neném saindo de dentro de mim, com um grito tão profundo que demorei alguns segundos para recobrar a consciência. Será que o médico não percebeu que tinha uma mulher parindo?

Um lindo milagre! Às 15h10, Bethânia chegou ao mundo com os curiosos olhos abertos e um chorinho tranquilo. Logo pegou o peitinho cheia de apetite.

“Nossa, ela é linda! Você acredita que a gente fez essa coisa maravilhosa? Narigudinha, né?”

E os telefones não paravam e todos festejavam a chegada da princesa. A cada “É a cara do pai, mas tem a orelha e o nariz da mãe”, eu pensava: “É... acho que sou nariguda!”


Música do dia: http://letras.mus.br/clara-nunes/127958/

27 comentários:

  1. :)...
    Amo vocês.

    P.S: o cala-boca ao Dr. Aloprado foi: "O senhor cale a sua boca, por favor!". E calou. Para logo em seguida, quem tinha de fazer barulho, o fez. Bethânia chorou linda como ela só e descansou, pela primeira vez, a cabecinha no peito da mamãe. Seja bem-vinda, meu amor. :)

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  2. Lindo relato. Sincero, leve, gostoso de ler. Imagino que outros virão, tão intensos, profundos e cheios de amor! Um beijo e parabéns pela princesa!

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  3. Não sei de onde tiraram que Bethânia tem alguma coisa do pai... a menina é linda!

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  4. Fiquei sem ar. Ansioso pra dar um cheirinho nessa nariguda. Digo, na menor, porque na maior eu vou dar uma bela de uma mordida. Roxo de saudades. Amo vocês!

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  5. Que texto lindo!! Me arrepiei com o momento da música da Clara Nunes!! E que sufoco nesse hospital, hein!! Mas graças a Deus deu tudo certo e a Bethânia está aí nesse mundão toda linda enchendo a vida de vocês de felidade!!
    Beijossss

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    1. Gracias, Lidi! E vocês têm de conhecer essa mocinha, cada dia mais linda. :) Beijos.

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  6. Parabéns Naty! Incrível essa história. Muito legal saber que Bethânia nasceu da forma mais natural e saudável possível. No ritmo, no tempo, no local, do jeito que tinha que ser.

    A vida não precisa de ambientes esterilizados para acontecer.

    Bem vinda Bethânia =)

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  7. Momentos mágicos como esse não têm roteiro, cenário, figurino ideal. Têm urgência de acontecer e vêm no tempo certo, como tudo nessa nossa aventura que é viver, né?

    Vou adorar acompanhar cada desafio e alegria de vocês por aqui. Que a Bethânia seja fonte de muita luz pra vocês sempre!

    E Natália, ela só tem o rosinha do Guilherme. Ela é a sua cara! ;)

    Beijos em todos!!

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    1. Hahaha. Ainda bem, né, Pri. Mas acho que pelo menos vai ficar com o olhinho claro do papai.

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    2. A cada dia que passa, Pri, eu vejo que ela misturou bastante. Consegue parecer com os dois :)

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  8. Lindo texto, lindo momento, linda meninoca!!! Cheia de vida e de encantos, mudando de vez a vida de vocês. Que siga encantando a todos do jeito que já me encanta, aqui, de longe, esperando ansioso pela hora de conhecê-la!
    Beijo, casal querido.
    Beijo, Bethânia, guria do dindo!

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    1. "Dindo, não vejo a hora de te conhecer. E traga uma mamadeira do Inter!!" Bethânia.

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  9. Adorei saber que o "Gui" também é conhecido como "Babe".

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  10. Parabéns Natália! Lindo o seu relato, obrigada por compartilhar!!!

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    1. Oi, Nice. Obrigada.
      Depois vou lá no grupo contar com mais detalhes.
      Boa hora pra você :) Que a Isabella venha cheia de saúde.

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  11. Confusões a parte... o importante é ter histórias para contar. Beijão aos três!!!

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  12. Nat, amei seu relato. O meu tb ja tá escrito é algo maravilhoso mesmo. Vi tb q vc conhece a pri (Priscila Borges) o mundo é mesmo bem pequeno. Mas a Betania é a cara do pai kkkk

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    1. Pois é, Bebê. Achei importante deixar esse momento tão especial registrado.
      Obrigada pela visita :)

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  13. Que lindo, queridos! Belo momento! E "Babe" deu todo um charme no relato... "Babe manda Dr. F calar a boca", show de bola!
    Esperando vocês prum churras! Mes eu asso, pq o Sandro sempre compra pouco carvão :)
    Talvez eu apareça por aí antes...
    Bjos!
    Jean, Dani e Pedroca

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  14. Marcadíssmo, comanchero! Já separa um belo pedaço de vazio e uma paletinha clássica. :) E virás por estas bandas? Maravilha. Avise o quanto antes quando tiveres a data para nos organizarmos. Abraciones.

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