Noite e madrugada complicadas. Por causa de uma superlotação e um surto de cesáreas em 2 de abril — justificado pela Semana Santa — ficamos sem assistência no hospital. Não tínhamos lençol, toalha, travesseiro, comida e, muito menos, a ajuda das enfermeiras. Passei a noite com a criança encostada no meu corpo para ter a certeza de que ela estava bem e quentinha. A intenção era de que a saída do útero não fosse tão traumática. "Acho que ela está cagada. O que a gente faz? Troca? Chama uma enfermeira..." Ficou cagada. "Ela está chorando... Põe no peito". A noite dela foi tranquila. A nossa, cheia de emoções.
Não dormi. Quando fechava os olhos, revivia cada segundo do parto. Ia a lugares dentro de mim nunca antes explorados. Eu era um misto de adrenalina e de emoção inexplicável. "Como é possível ela estar aqui nos meus braços e eu ainda estar sentindo ela tão intensamente dentro da minha barriga?" Sensação estranha. "Como eu posso ter feito essa coisinha tão linda, pequena e frágil?" A vida é um milagre. Eu agradeço!
O dia começou cedo com um entra em sai danado no quarto. Toda hora um médico, uma enfermeira e, principalmente, alguém para "vender" alguma coisa: exame da orelhinha ultratecnológico, teste do pezinho com análise especial, furo da orelhinha... A dra. J. assinou minha alta logo cedo e ficamos na dependência da liberação do bebê. Pela manhã, outro pediatra do hospital (vamos chamá-lo de Dr. Esquisito) veio vê-la e estava tudo bem. Podíamos ir para casa às 18h. Era só esperar.
Por causa da minha mania de querer saber de tudo, chamei alguém do banco de leite para me ajudar a encontrar uma posição menos travada de amamentar. Erro. A enfermeira olhou e soltou a bomba: “Mãezinha, tem um pouco de sangue saindo do seu colostro. E não é ferida na mama, é lá dentro. Isso não é legal para o neném.” A partir desse momento, tudo ficou turvo. Começamos a receber a visita de várias enfermeiras, e o Dr. Esquisito voltou para dizer que não era mais para amamentar o bebê, porque esse leite com sangue podia provocar náuseas nela. Ela ia ficar superbem tomando complemento. Segundo ele, claro. Resultado: alta retirada e sairíamos do hospital "talvez no dia seguinte", mas, com certeza, quando o sangue parasse.
Eu não queria dar complemento. Sempre ouvi que o colostro é muito importante para a saúde do bebê. “Que p... de sangue era esse?” “Isso não é normal?” De todos os profissionais que entraram no quarto para brigar comigo ao ver a minha filha com a boca no peito, nenhum deles conseguiu me explicar. A única coisa que eu ouvia era: "Mãezinha, o Dr. Esquisito disse que não era para você amamentar o bebê." Mãezinha é o c...
"Como o meu sangue poderia fazer mal pra minha filha? Ela não veio de dentro de mim?” O único problema relatado eram as náuseas. “Sim, ótimo, ela não vai dirigir nem operar máquinas pesadas. É pior ela ter náuseas ou ficar sem o colostro?” Essa pergunta ninguém sabia responder. Bati o pé, briguei e esperneei, igual criança. Não vou deixar de dar o peito! Comecei as ligações: Dra. J., doula querida, o pediatra oficial, coordenadoras de bancos de leite. Todo mundo recomendou continuar o mamar, que não fazia mal para o bebê. A obstetra explicou que o sangue era de vasinhos que romperam na descida do colostro e que ia passar logo. Não é comum acontecer, mas é normal. “Quero ir embora desse hospital agora!"
Para complementar o nervosismo, a Bethânia passou o dia molinha, sonolenta demais, dava umas três mamadas e dormia de novo. “Pronto, meu leite deve estar estragado mesmo...” E aquele nó na garganta.
Após a visita do pediatra dela (que nos tranquilizou bastante) e um check-up para dizer que estava tudo bem, resolvemos sair daquela maternidade. Assinamos uma alta à revelia, laço na cabeça e tchau! Eu já tinha ficado famosa no hospital por ter parido na sala de pré-parto. Agora, eu era a mãe louca e irresponsável que estava querendo criar um bebê-vampiro.
Ao chegar em casa, o meu bebê Nosferatu acordou, agarrou o peito loucamente, mamou como nunca e, até a madrugada, já não havia mais resquícios de sangue no meu leite. Agora, era dar de mamar de três em três horas para a gatinha ganhar peso.
Música do dia: http://letras.mus.br/lenine/183820/
Que porra de hospital é esse, hein? Sorte de Bethânia que mamãe é descolada!
ResponderExcluirMaternidade Brasília.
ExcluirNunca mais, hein?
ExcluirMamãe saiu chutando porta, chefe! Hehehe
ExcluirBoa, mamãe!
ExcluirNat, adorei o texto. É isso aí, a filha é sua e quem comanda é vc. Bando de profissionais de bosta. Bebê
ResponderExcluirNat, já vai planejando um parto domiciliar pro próximo!!!!
ResponderExcluirParto domiciliar na próxima...
ResponderExcluirqual foi o hospital? o atendimento foi horrível? achei tão legal vc ter parto normal de cócoras, o meu foi normal sem anestesia nem nada, mas fui pra uma sala de cirurgia... tenso pensar que tem mais sala de cirurgia do que uma ala de parto natural com banheira ou a possibilidade de parir no próprio quarto =/
ResponderExcluirEsse mundo "moderno" me assusta também. É decepcionante...
Excluirmaternidade brasília é a mesma coisa que hospital brasília?
ResponderExcluirMaternidade Brasília mesmo, mas é do Hospital Brasília.
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